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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Locais do Culto da Deusa, Rio Maior


Numa altura em que exercia o cargo de director do, então já, "Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcelos", Manuel Heleno, explorou várias estações arqueológicas de Rio Maior, região particularmente abundante em arqueossítios, mercê das condições naturais que desde cedo propiciaram a sua procura por parte de comunidades humanas (Cf. BARBOSA, F., BARBOSA, F. B., PAÇO, A. do e SOUSA, J. do N., 1959). O local era, no entanto, já conhecido, como comprova o facto de ter sido alvo de classificação, como "Monumento Nacional", em 1934 (Cf. CARDOZO, M., 1941).

De entre estes sítios, destaca-se a necrópole neolítica e calcolítica acompanhada de um conjunto significativo de espólio funerário associado, conhecida pela designação de "Gruta em Nossa Senhora da Luz", rasgada em calcários do Jurássico médio, inicialmente explorada entre 1935 e 1936, à qual se associaram posteriores campanhas decorrentes até 1942, tendo o abundante espólio recolhido à época sido conduzido para o actual "Museu Nacional de Arqueologia" (CARDOSO, J. L., CARREIRA, I. M. da C. e CARREIRA, M. I. M., 1996, p. 195; Cf. FERREIRA, O. da V., 1970), caracterizando a sua ocupação ocorrida ao longo de quatro fases: Neolítico antigo, Neolítico final, Calcolítico pré-campaniforme e campaniforme.

Do vastíssimo conjunto de artefactos então exumados, constam diversos exemplares de indústria lítica, como machados, enxós e escopros, no que se refere aos utensílios de pedra polida, assim como trapézios, crescentes, triângulos e lamelas, no respeitante a indústrias microlíticas de pedra lascada, abundando, ainda, exemplares de furadores, pontas de seta, de par com testemunhos, entre outros, de alabardas e punhais. Quanto às indústrias ósseas, elas encontram-se de igual modo bem representadas, nomeadamente através de furadores e pontas, bem como objectos de adorno executados em osso e concha.

Integráveis no denominado "universo de carácter mágico-simbólico", consta um exemplar liso de cilindro de calcário, "[...] idêntico aos numerosos cilindros exumados em povoados e necrópoles da Estremadura e do Sul de Portugal." (Id., Idem, p. 236). Acresce a este artefacto um machado votivo e dois vasos de calcário, estes últimos a corporalizar, na opinião de alguns autores, "[...] a adaptação ao calcário - matéria-prima usualmente conotada com o fabrico de artefactos mágico-simbólicos no Calcolítico - de formas pré-existentes [...]." (Ibid.).

No que se refere à cerâmica, normalmente sempre mais representada nas estações arqueológicas, em razão da sua natureza e da frequência com a qual era produzida e utilizada no quotidiano das comunidades que dela fruíam, a necrópole forneceu fragmentos de diferentes tipologias lisas, como esféricos, taças em calote e carenadas, conjuntamente a exemplares decorados neolíticos, calcolíticos e balizados já na Idade do Bronze (Id., Idem, pp. 238-246).
[AMartins]

http://www.igespar.pt/pt/patrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/detail/70288/


Imagem: Google, trata-se dum exemplo de cilindro votivo, não propriamente daquele que foi encontrado em Rio Maior na Gruta da Senhora da Luz

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