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domingo, 3 de julho de 2016

SEQUANA, DEUSA TUTELAR DO RIO MAIOR

“O rio Maior, também chamado vala da Asseca, ribeira da Asseca, vala da Azambuja e vala Real em parte do seu percurso, é um curso de água que nasce na serra dos Candeeiros, num local chamado Bocas, perto de Freiria, em Rio Maior.
No seu percurso de aproximadamente 70 quilómetros, passa por Rio Maior, Vale de Santarém, Santana, Setil, Ponte do Reguengo, Virtudes até desaguar no rio Tejo, perto de Azambuja.” Wikipédia




SEQUANA, BOAND, BOVINDA-SEQUANA


"Sequana, “A que flui”, é um dos múltiplos epítetos atribuídos à divindade céltica principal Bovinda/Boand, Deusa-Mãe das Águas." Gabriela Morais e Fernanda Frazão, O Culto das Cabeças

Já sabia, pelas investigadoras acima citadas, que a ribeira da Asseca toma o seu nome da Deusa celta Sequana, Secuana, ou Bovinda-Sequana, não imaginava é que a ribeira da Asseca fosse o próprio rio Maior…


Na religião galo-romana, Sequana era a Deusa tutelar do rio Sena, particularmente da sua nascente, ou nascentes, e da tribo galesa das e dos Sequani. Essa nascente do Sena, denominada Fontes Sequanae, situa-se num vale do planalto de Langres, na Côte d' Or, e foi aí que, pelo menos do 2.º ao 1.º século a.C., um santuário de cura foi ativo lugar de peregrinação. As ruínas do tanque de banhos foram descobertas no local já no séc. passado e inúmeros ex-votos, representando essencialmente partes do corpo humano, e feitos por norma em pedra e madeira, foram dele retirados. Mas também o bronze foi usado numa imagem da Deusa aí encontrada, em que Ela se apresenta de pé sobre uma barca, cuja proa exibe a forma dum pato, Seu animal totémico e relacionado com cultos de cura. De braços abertos em atitude de acolhimento das preces que as e os fiéis Lhe dirigiam, a Deusa veste uma túnica ao estilo romano e usa um diadema na cabeça. A imagem encontra-se agora no Museu de Arqueologia de Dijon. Eram consideradas de cura, portanto, as águas que tutelava esta Deusa, como acontecia em vários outros casos conhecidos em que a Deusa de um rio era uma Deusa da cura (ver o exemplo de Sul, Sulis).

Outras inscrições que sobreviveram, entretanto, parecem indicar que o santuário de Sequana foi mais tarde cristianizado e rededicado a um santo, a que foi dado o nome de Sequanus, o que fez com que o Seu culto tivesse continuada sob este novo disfarce. 
  
NO RIO MAIOR

Será por acaso que tanta reverência ainda hoje é prestada às denominadas “bocas do rio Maior”? Quando começam as chuvadas a sério, por exemplo, há pessoas que aí se deslocam de propósito para ver brotar as águas que alimentarão o caudal do rio. Especulando um bocadinho (mas é um certo feeling...), poderíamos imaginar que algo como um campo mórfico (ver teoria de Rupert Sheldrake) continuaria ativo na zona, algo que seria como uma espécie de continuidade duma antiquíssima peregrinação a um lugar sem dúvida muito sagrado para os antigos povos da região, se calhar com uma fama que se estendia até bem mais longe...?

 

Na imagem à esquerda, a estátua da Deusa Sequana feita pelo escultor francês Paul Auban, em 1934, que se encontra numa das nascentes do Sena, lembrando a estátua romana encontrada em Rio Maior (abaixo)...

HONRAR SEQUANA


Sequana dispensa-nos: satisfação dos desejos, jovialidade, boa sorte, saúde e movimento. Os Seus símbolos são os patos e os barcos.

Existem ainda em França vestígios duma cerimónia em que as crianças atiram à água barcos em miniatura com velas acesas no seu interior, e representando a felicidade da Deusa Sequana, enchendo de alegria a própria viagem da vida, trazendo-nos a vitalidade necessária para alcançarmos as nossas metas e objetivos. A pessoa que mais tarde encontrar esse barquinho pode formular um desejo ao trazê-lo de volta à margem.


Outra sugestão para honrar esta Deusa consiste em adicionar à água do banho algumas ervas como salva para os desejos, rosmaninho para a jovialidade, pimenta da Jamaica para a boa sorte, funcho para a saúde e gengibre para o movimento.  Em vez de usadas num banho, entretanto, estas especiarias podem ser tomadas numa tisana que nos ajuda a viver o dia com os poderes da Deusa mais ao nosso alcance.

Informação encontrada essencialmente em:
https://journeyingtothegoddess.wordpress.com/2012/04/06/goddess-sequana/

As imagens, com exceção da primeira, da autora, foram encontradas na Net.






segunda-feira, 13 de junho de 2016

O CORPO DA DEUSA



Quando a Grande Deusa era adorada pela humanidade, o Seu corpo era visto na própria terra, era a própria Terra. O seu ventre prenhe era percebido nos montes cujas caves, que foram os primeiros templos, como é muito óbvio na cultura cretense, eram o seu útero onde tem origem a vida. Um dos mais primordiais títulos da Deusa era Senhora do Monte. Ninkursag (Nin-kur-sag), Senhora do Monte Sagrado, em sumério. A sua vulva é visível em várias fendas na rocha, terra, árvores. A sua silhueta recortada na paisagem é frequente em várias paisagens. Esses lugares eram sagrados para as nossas antepassadas e para os nossos antepassados, sobretudo quando outros fatores se conjugavam, como a passagem ou cruzamento de linhas de energia ou até quando vários destes elementos do corpo da Deusa se combinavam.

A primeira vez que o investigador escocês Stuart McHardy me falou de montes duplos sagrados, perguntando-me se existiam em Portugal, ou se eram popularmente reconhecidos como os “seios da Deusa”, achei a pergunta estranha, nunca tinha ouvido falar de nada parecido, a Deusa/Nossa Senhora, estava nas igrejas, ninguém A vislumbrava na natureza, se essa ideia alguma vez existiu, e agora estou segura de que sim, terá sido, como muitas outras crenças pagãs, erradicada pela Inquisição.

Entretanto, à medida que a minha investigação no tema prosseguiu, os primeiros montes duplos sagrados revelaram-se-me na zona onde vivo, Rio Maior. Sei que eram sagrados porque estão naquilo que podemos considerar que foi o complexo de um templo, nas imediações da nascente do rio, onde existem duas caves que foram locais de culto e estão hoje classificadas como monumentos nacionais, dedicadas portanto à Deusa no seu aspeto Anciã da Morte. Aí,  exatamente frente a esses dois montes gémeos, ergue-se uma pequena ermida dedicada à Senhora da Luz, uma das denominações da Deusa Donzela do Imbolc. Seriam então mais “Maiden Paps” (https://en.wikipedia.org/wiki/Maiden_Paps_%28Caithness%29 ).

“A dupla montanha determinava o vale onde nascia o sol entre montanhas e era uma analogia dos seios da Deusa Mãe que aleitava o sol mal este nascia de manhã para regressar ao pôr-do- sol ao seio da Deusa Mãe da Noite Primordial. Para as antigas egípcias e os antigos egípcios, esta montanha era real e dominava a silhueta de montanhas do Vale dos Reis. A importância deste mito determinou conceitos tão fortes que estiveram na origem do ideograma M, de que deriva a letra latina e grega para eme, que é tanto de ma / mãe como da dupla montanha = mamas, e era paralelo dos conceitos dos duplos pilares que seguravam a abóbada celeste, que eram as colunas de Hércules, que mais não eram do que, a Ocidente, as pernas da Deusa Mãe e, a Oriente, os Seus braços.” Artur Felisberto, blogue Numância (adaptado por mim).

Estes montes em forma de seio podem entretanto não ser duplos, mas ser apenas um, tal como o Tor de Glastonbury é visto como o seio esquerdo da Deusa do lugar, Nolava/Avalónia, a Senhora de Avalon.

“A breast-shaped hill is a mountain in the shape of a human breast. Some such hills are named "Pap", a word for the breast or nipple. Such anthropomorphic geographic features are to be found in different places of the world and in some cultures they were revered as the attributes of the Mother Goddess, such as the Paps of Anu, named after Anu, an important female deity of pre-Christian Ireland.”

https://en.wikipedia.org/wiki/Breast-shaped_hill

Imagens
1.ª Senhora da Luz, Rio Maior
2.ª Paps of Anu,County Kerry, Irlanda
3.ª Monte Ida, Creta
4.ª Seios de Afrodite, Grécia, Ilha de Mikonos
5.ª Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
6.ª Tor de Glastonbury, Reino Unido

Luiza Frazão, autora de A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino no Nosso Território