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segunda-feira, 13 de junho de 2016

O CORPO DA DEUSA



Quando a Grande Deusa era adorada pela humanidade, o Seu corpo era visto na própria terra, era a própria Terra. O seu ventre prenhe era percebido nos montes cujas caves, que foram os primeiros templos, como é muito óbvio na cultura cretense, eram o seu útero onde tem origem a vida. Um dos mais primordiais títulos da Deusa era Senhora do Monte. Ninkursag (Nin-kur-sag), Senhora do Monte Sagrado, em sumério. A sua vulva é visível em várias fendas na rocha, terra, árvores. A sua silhueta recortada na paisagem é frequente em várias paisagens. Esses lugares eram sagrados para as nossas antepassadas e para os nossos antepassados, sobretudo quando outros fatores se conjugavam, como a passagem ou cruzamento de linhas de energia ou até quando vários destes elementos do corpo da Deusa se combinavam.

A primeira vez que o investigador escocês Stuart McHardy me falou de montes duplos sagrados, perguntando-me se existiam em Portugal, ou se eram popularmente reconhecidos como os “seios da Deusa”, achei a pergunta estranha, nunca tinha ouvido falar de nada parecido, a Deusa/Nossa Senhora, estava nas igrejas, ninguém A vislumbrava na natureza, se essa ideia alguma vez existiu, e agora estou segura de que sim, terá sido, como muitas outras crenças pagãs, erradicada pela Inquisição.

Entretanto, à medida que a minha investigação no tema prosseguiu, os primeiros montes duplos sagrados revelaram-se-me na zona onde vivo, Rio Maior. Sei que eram sagrados porque estão naquilo que podemos considerar que foi o complexo de um templo, nas imediações da nascente do rio, onde existem duas caves que foram locais de culto e estão hoje classificadas como monumentos nacionais, dedicadas portanto à Deusa no seu aspeto Anciã da Morte. Aí,  exatamente frente a esses dois montes gémeos, ergue-se uma pequena ermida dedicada à Senhora da Luz, uma das denominações da Deusa Donzela do Imbolc. Seriam então mais “Maiden Paps” (https://en.wikipedia.org/wiki/Maiden_Paps_%28Caithness%29 ).

“A dupla montanha determinava o vale onde nascia o sol entre montanhas e era uma analogia dos seios da Deusa Mãe que aleitava o sol mal este nascia de manhã para regressar ao pôr-do- sol ao seio da Deusa Mãe da Noite Primordial. Para as antigas egípcias e os antigos egípcios, esta montanha era real e dominava a silhueta de montanhas do Vale dos Reis. A importância deste mito determinou conceitos tão fortes que estiveram na origem do ideograma M, de que deriva a letra latina e grega para eme, que é tanto de ma / mãe como da dupla montanha = mamas, e era paralelo dos conceitos dos duplos pilares que seguravam a abóbada celeste, que eram as colunas de Hércules, que mais não eram do que, a Ocidente, as pernas da Deusa Mãe e, a Oriente, os Seus braços.” Artur Felisberto, blogue Numância (adaptado por mim).

Estes montes em forma de seio podem entretanto não ser duplos, mas ser apenas um, tal como o Tor de Glastonbury é visto como o seio esquerdo da Deusa do lugar, Nolava/Avalónia, a Senhora de Avalon.

“A breast-shaped hill is a mountain in the shape of a human breast. Some such hills are named "Pap", a word for the breast or nipple. Such anthropomorphic geographic features are to be found in different places of the world and in some cultures they were revered as the attributes of the Mother Goddess, such as the Paps of Anu, named after Anu, an important female deity of pre-Christian Ireland.”

https://en.wikipedia.org/wiki/Breast-shaped_hill

Imagens
1.ª Senhora da Luz, Rio Maior
2.ª Paps of Anu,County Kerry, Irlanda
3.ª Monte Ida, Creta
4.ª Seios de Afrodite, Grécia, Ilha de Mikonos
5.ª Ilha de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil
6.ª Tor de Glastonbury, Reino Unido

Luiza Frazão, autora de A Deusa do Jardim das Hespérides: Desvelando a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino no Nosso Território

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