Nas imediações da Senhora da Luz
(...) Mas quando investigamos a
primitiva, esquecida e renegada tradição da Deusa, ainda existem neste país
muitas surpresas e lugares não mapeados para uma investigadora amadora como eu.
Se estivermos atent@s, e de antenas mais ou menos afinadas, estou convencida de
que podemos vir a encontrá-los quase ao sair da porta de casa para fora. Foi o
que me aconteceu aqui, no concelho onde vivo, com uma capela da Senhora da Luz
que esteve anos e anos ao abandono e que subitamente começou a ganhar vida e a
ter a sua festa anual. Curiosamente era um sítio onde havia uma bonita roseira branca
antiga; cheguei a ir lá muitas vezes apanhar rosas, que perduravam até muito tarde,
havendo por vezes ainda rosas pelo Ano Novo.
Esta construção dos anos 50 do
século XX fica nas imediações das grutas de Rio Maior, que são igualmente dedicadas à Senhora da Luz, perto da nascente do próprio rio. É óbvio para mim
que o conjunto constitui um local sagrado da Deusa por excelência, com a gruta como
representação do Seu útero, onde se regressa na morte, e portanto ligada ao aspeto
Anciã, e logo a seguir a capela dedicada à Donzela, possivelmente construída
num sítio que há muito já era sagrado. Sabemos que as grutas de Rio Maior,
hoje monumentos nacionais, foram lugares sagrados onde se acharam, para além de
ossadas, objetos votivos que estão atualmente no Museu Nacional de Arqueologia.
Mas voltando à capela da Senhora
da Luz, o mais interessante no conjunto, quanto a mim, é a vista que se tem à
nossa frente, quando viramos as costas ao altar. Do outro lado da estrada, para
lá do rio, dois montes contíguos são… os seios da Deusa, algo de muito sagrado
na paisagem em tempos pagãos, quando a terra era considerada o Seu próprio
corpo. Esta associação, que o puritanismo católico parece ter aqui erradicado
por completo da nossa memória, perdura por exemplo em relação às montanhas gémeas da
Irlanda denominadas Paps of Anu, sendo Anu um outro nome da Deusa conhecida por Dana ou Danu.
Quanto ao elemento luz deste
local sagrado, é possível que estivesse relacionado com algum fenómeno
astronómico, envolvendo o Sol, a Lua ou qualquer constelação, hoje em dia
difícil de perceber pela nossa profunda ignorância das coisas do céu.
©Luiza Frazão
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